quarta-feira, 24 de novembro de 2010

No Tempo em que Éramos Adultos



Depois de termos percorrido uma etapa considerável das nossas vidas, por vezes sentimos vontade de correr o filme atrás para analisarmos se, realmente, nos transformamos nas pessoas que idealizamos, ou se, bem vistas as coisas, somos apenas o produto dos erros que fomos acumulando.
Muitos são aqueles que tentam recuperar o seu tempo de juventude, as suas vivências, correndo normalmente o risco de sofrer as maiores desilusões. O tempo não perdoa, a sua erosão muito menos e, claro, as pessoas vão mudando como reflexo imediato das respectivas vivências. Ninguém pode estar à espera  que um ser seja igual toda a vida. Por exemplo, há coisas que em tempos adoramos e que agora não conseguimos entender que encanto é que, no passado, lhes encontrámos...
Estas inquietação e algumas outras tomaram conta da protagonista de “No tempo em que éramos adultos”, que nos escreve Anne Tyler. Ao fim de três décadas de ter tomado a grande decisão que foi  crucial para a sua vida, Rebecca interroga-se se, realmente, era tudo aquilo que mais desejava para si.
Ainda na universidade, largou o namorado que conhecia desde criança por causa de uma irresistível paixão por Joe, um viúvo com três filhas, com quem, pouco tempo depois de o ter conhecido, viria a casar e a ter uma filha. Com a morte prematura de Joe num acidente de viação, Rebecca fica com a obrigação de criar quatro raparigas e ainda de viver com um tio do marido, Poppy, que caminha a passos largos para o centenário, alternando os momentos de lucidez com outros menos racionais.
Rebecca decide viver mais para os outros do que para si, fecha-se para o mundo, preocupando-se somente com a vida das pessoas que tem sob a sua responsabilidade. Mas quando chega ao estatuto de avó, com pouco mais do que 50 anos, sente que ainda tem muito para viver e tenta refugiar-se no passado. Mas  já não será possível reescrever a história da sua vida.
Anne Tyler passa-nos todos os sentimentos contraditórios que tomam conta da protagonista de uma forma cristalina. A sua prosa sem artifícios convida-nos a uma leitura incessante: parámos quando não há mais para ler...

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